Por: Wendell dos Santos Monteiro
Aos dias 06 de janeiro do ano de 1919 era
criado, em São Luís, o primeiro grupo de estudos em Astronomia Amadora do
Brasil: o Collegio Astronómico Camillo
Flammarion. O grupo de Astronomia era sediado no bairro da Jordoa, a 6,6 km
do centro da capital maranhense, que, àquela época funcionava no Observatorio Orion - de propriedade do
Engenheiro Militar José Eduardo Abranches de Moura - montado em excelente local
da ilha, conforme afirmou o seu ilustre irmão João Dunshee de Abranches Moura em seu livro Uma Vida ... (1936).
O Collegio Astronómico Camillo Flammarion foi
constituída inicialmente por sua diretoria, assim divindade:
1. José Eduardo Abranches de Moura (presidente)
2. Ruben Almeida (secretário)
3. Adelman Correia (tesoureiro)
4. Damasceno Ferreira (bibliotecário)
Figura 1: Observatorio Órion, São Luís, local de observação do Collegio Astronómico Camillo Flammarion. Da Esquerda para Direita: Adelman Correia (tesoureiro), José Eduardo Abranches de Moura (Presidente), Ruben Almeida (Secretário) e Damasceno Ferreira.
A edição número 1258, de terça-feira, do dia 07
de janeiro de 1919 de O JORNAL, mostra:
“Alguns esforçados maranhenses acabam de
preencher sensível lacuna, fundando nesta capital, uma corporação científica.
Denomina-se ela: Collegio Astronomico Camillo Flammarion, e tem por escopo
principal o estudo aprofundado da Astronomia e a difusão desse estudo pelo
Estado, principalmente”.
Já a edição do jornal PACOTILHA, quarta-feira,
08 de janeiro de 1919, edição nº 00006 traz, também, a finalidade do recém-criado
grupo de astronomia ludovicense:
“Dentro do seu círculo de ação procurará o
collegio intensificar seriamente o estudo da astronomia entre nós e,
consequentemente, das demais sciências que lhe são correlatas, e generalizar
esses conhecimentos, para o que, além de diversos aparelhos que já possuem, vai
procurar, afim de poder acompanhar o movimento progressista de tão importante
ramo do saber humano”.
Passados 29 dias, o meio de comunicação O
JORNAL, em 06 de fevereiro do 1919, pg. 4, publicou uma nota a respeito do Collegio
Astronómico Camillo Flammarion, que se segue:
“Congregaram-se, ante-hontem, na
rezidencia do seu presidente, a Gamboa, os socios fundadores dessa novel
sociedade cienífica. Os novos estatutos foram discutidos”.
Aos 27 dias do mês de fevereiro do ano de 1919,
página 4, O JORNAL traz em sua edição uma história biográfica do patrono que
deu nome à PRIMEIRA instituição amadora de astronomia do Brasil, trata-se do Astrônomo
Francês Camille Flammarion, em comemoração aos 77 anos de vida àquela época. O
texto redigido no dia 26 de fevereiro de 1919 pelo presidente do Collegio
Astronómico Camillo Flammarion, José Eduardo Abranches de Moura, foi publicado
ao dia seguinte por falta de espaço no meio de comunicação.
Na quinta-feira do dia 20 de março de 1919, O
JORNAL publicou uma matéria redigida pelo presidente do Collegio Astronómico
Camillo Flammarion intitulado “NEWTON”. Nela mostra um perfil breve do grande
cientista Isaac Newton, apresentando seus grandes feitos na história da ciência
mundial, como segue o trecho extraído da edição:
“ [ ... ] veio, então, Newton, que foi
muito mais longe, resumindo as três leis de Kepler em um princípio único, de
uma extraordinária fecundidade, o da gravitação universal, que é a baze da
Astronomia, principalmente a do systema solar”.
Aos dias 30 de abril de 1919, quarta-feira, o Collegio
Astronómico Camillo Flammarion emitiu uma nota no O JORNAL, intitulada Mme
Camille Flammarion, informando que:
“A 23 de fevereiro ultimo faleceu Mme. Sylvie
Petieux-Hugo Flammarion, esposa do grande astrônomo Camille Flammarion”.
Vale ressaltar que a edição seguinte de O
JORNAL – quinta-feira, 01 de maio de 1919 - trouxe a concluzão da nota intitulada Mme
Camille Flammarion, iniciada no dia anterior.
Ao dia 14 de maio de 1919 o Collegio
Astronómico Camillo Flammarion, através do seu presidente, publicou em O JORNAL
uma nota com o título: o eclipze de 29 de maio, em que se
mostra:
“Terá lugar, no dia 29 do corrente mez, um
eclipse total do Sol, importante pela sua duração, que será a máxima a ser
observada desde os tempos históricos e muito aproximada do maximo valor teórico”.
“Essa totalidade não se produzirá nesta
capital, notando-se, porem, que a faze será a maior do que as de todas as capitais
do Brazil. O disco solar ficará apenas 0,05 contesimos vizivel, devendo, portanto,
ser muito grande a diminuição de luz. Aqui nesta capital dar-se-há o primeiro contacto
ás 7h. 44 m e o ultimo ás 10h. 20 m sendo a faze máxima ás 8h. 57 m”.
Na terça-feira do dia 20 de maio de 1919, nove
dias antes do Eclipse Total (visualizado, por exemplo, pelo físico teórico alemão
Albert Einstein, em Sobral/CE), o secretário do Collegio Astronómico Camillo
Flammarion, Ruben Almeida redigiu um texto em O JORNAL, intitulado como: eclipses.
Eis um encurtado trecho:
“[...] Eclipse, que vem de uma palavra
grega significando desfalecimento, abandono, quer dizer, em astronomia, a
desaparição momentanea de um astro, no todo ou em parte. Eis uma definição
simples. E que é que oculta esse astro? Outro astro, claro. [...]”.
A série eclipses, escrita por Ruben Almeida teve
mais duas aparições antes do famoso eclipse total de 29 de maio do não corrente,
trazida aos leitores em 22 de maio de 1919 e no dia seguinte, 23 de maio de 1919,
ambos citando o Collegio Astronómico Camillo Flammarion como autor das
notícias.
Ao dia 24 de maio de 1919 o Collegio
Astronómico Camillo Flammarion fez a chamada de uma conferência, publicado em O
JORNAL, edição nº 1374, a respeito do Eclipse Solar, e, a matéria segue na
íntegra:
Figura 2: Chamada da Conferência sobre Eclipse do Sol |
A conferência sobre o Eclipse do Sol promovida
pelo presidente do Collegio Astronómico Camillo Flammarion, J. Abranches de
Moura, em 26 de maio de 1919, segunda-feira, foi resumida e publicada no jornal
PACOTILHA do dia 29 de maio de 1919, mesmo dia do fenômeno astronômico: o
Eclipse Total do Sol. Em sua fala, J. Abranches de Moura discorreu sobre a brilhante
frase:
“A Astronomia é a inspiradora, por
excelência, de toda a filosofia e de toda a poesia. Alarga todos os horizontes
e faz-nos viver intelectualmente”.
Aproveitando o interesse dos presentes, J.
Abranches de Moura falou sobre outros aspectos da história da astronomia,
incluindo a participação das mulheres. Eis um dos trechos de sua palestra:
“Outro facto, meus senhores, que tambem
não posso deixar em silêncio, agora, que estou fazendo uma ligeira exposição da
astronomia, consiste na opinião, que muitos têm, de que a mulher é inapta para
os mistérios do Grande Todo. Nada mais absurdo do que isso. Porque motivo
havemos de fechar as portas do templo de Urânia á mulher, quando a vemos salientar-se
em todos os seus empreendimentos? E além disso não é de hoje que a encontramos
entregue aos estudos elevados”.
E seguiu o discurso citando várias cientistas
tais como Hipácia, Madame Lepaute, Marquesa de Chetelet, Carolina Herschell,
etc.(NEOA-JBS, 2017).
Um dia após passado o eclipse solar, em 30 de
maio de 1919, O JORNAL publicou o relatório da observação do eclipse realizada
em São Luís/MA, intitulada:
O ECLIPSE DO SOL
“Comunicam-nos do Collegio Astronómico
Camillo Flammarion.
A observação do eclipse foi feita em
condições favoráveis: Os contactos foram bem observados; foram vistas nuvens
irizadas, aprezentando diversas cores do spectro, embora muito enfraquecidas;
as bússolas de declinação e inclinação aprezentaram variações; houve abaixamento
de temperatura; as sombras das arvores, das mãos e de diversos objetos terrestres
tomaram aspectos curiozos; as fotografias obtidas deram rezultados muito bons; as
observações feitas sobre plantas e animais deram rezultados negativos.
Os observadores foram assim distribuídos:
dr. Abranches Moura, na equatorial a 0.109 observava diretamente, fazia
observações spectroscopicas e fotográficas; Rubem Almeida redigia as
observações, tomando as leituras nos cronômetros e acompanhava as observações
diretas e magnéticas; R. Damasceno trabalhava na luneta de observação por projeção
e tomava as medidas com o micrometro Lugeol; Adelman Corrêa ocupava-se com as
observações meteorológicas; Guilherme Mattos tomou a seu cargo o serviço
fotográfico.
Diremos mais detalhes quando forem
redigidas as observações”.
Já no jornal PACOTILHA de 30 de maio de 1919, o
Collegio Astronómico Camillo Flammarion redigiu com mais detalhes os
instrumentos utilizados no processo de acompanhamento do eclipse solar:
O ECLIPSE DO SOL
“Os instrumentos empregados foram:
1 equatorial Mailhat de 0,109 á qual
estava adaptada, lateralmente, uma câmara fotográfica, com objectiva Goertz;
1 luneta paralática de 0,075 de Otto
Pfeifer, para observação por projecção, tendo disco com círculo de posição,
formando grupo com uma luneta micrométrica Lugeol.
1 luneta de 0,045 para observação
fotográfica do fenômeno.
1 spectroscópio a luneta para observação
da variação das cores do spectro.
1 spectroscópio a visão direta, adaptável
a luneta de 0,109.
Findado os registros observacionais, o Collegio
Astronómico Camillo Flammarion enviou um telegrama ao astrônomo Henrique Morize
(Observatório Nacional) que se encontrava em Sobral/CE. O relatório foi enviado
também à Sociedade Astronômica de França e foi citado na reunião dessa
sociedade em 10 de novembro de 1920.
Passados meses, em 12 de dezembro de 1919, o engenheiro
J. Abranches de Moura pediu exoneração do cargo de presidente do Collegio
Astronómico Camillo Flammarion, como mostra o trecho de O JORNAL de 13 de
dezembro de 1919, na íntegra:
Figura 3: Constituição da nova diretoria do Collegio Astronómico Camillo Flammarion |
Conforme se percebe, a nova diretoria foi
formada por:
1. Ruben Almeida (presidente);
2. Luiz Gonzaga dos Reis (secretário);
3. Adelman Corrêa (tesoureiro);
4. Damasceno Ferreira (bibliotecário).
Passaram a ser sócios do Collegio Astronómico
Camillo Flammarion, aquela época, os professores Cleomene Falcão e Vitoriano Almeida.
O Collegio Astronomico Camillo Flammarion não apareceu
mais nos jornais maranhenses da época, embora José Eduardo Abranches de Moura
ainda continuasse escrevendo alguns artigos astronômicos.
De acordo com (NEOA-JBS, 2017), o Collegio
Astronomico Camillo Flammarion ainda aparecia como “Sociedade Correspondente”
da SAF na edição da revista L’Astronomie em 1921. Depois dessa data não se encontrou
referências sobre o destino do Collegio Astronómico Camillo Flammarion.
Portanto, com as evidências das referências
encontradas na pesquisa, o COLLEGIO ASTRONÓMICO CAMILLO FLAMMARION se tratou de
ser o primeiro grupo de Astronomia Amadora do Brasil.
NOTA DO AUTOR:
O livro UMA
VIDA ... de autoria de João Dunshee de Abranches Moura retrata: PERFIL BIOGRAPHICO DO PROFESSOR JOSÉ DE
ABRANCHES MOURA EM HONRA AO SEU JUBILEO SCIENTIFICO. Nele aparece uma foto
intitulado “O professor Abranches Moura
no seu gabinete de trabalho”. Por se tratar de uma foto rara, nem mesmo
encontrada na internet anteriormente, os créditos dos mesmos irão a biblioteca
da Academia Maranhense de Letras (AML).
Figura 4: O professor Abranches Moura no seu gabinete de trabalho |
OBSEVAÇÃO: A pesquisa e estudo sobre o Collegio Astronómico Camillo
Flammarion continua. Sendo as mesmas desenvolvidas por membros da Sociedade de
Astronomia do Maranhão (SAMA). Atualmente estão à frente da pesquisa: Wendell
dos Santos Monteiro (presidente); Manuel Ricardo de Jesus Costa (secretário);
Paulo Melo Sousa (sócio-fundador); Jaldir Varela (membro); Sérgio Luís Araújo
Brenha (membro) e Marcelo Ramos (membro).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 07 de janeiro de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. PACOTILHA, 08 de janeiro de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 06 de fevereiro de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 27 de fevereiro de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 20 de março de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 30 de abril de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 01 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 14 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 20 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 22 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 23 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. PACOTILHA, 27 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. PACOTILHA, 29 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 29 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. PACOTILHA, 30 de maio de 1919.
HEMEROTECA DIGITAL / Biblioteca
Nacional. O JORNAL, 13 de dezembro de 1919.
MOURA, J. D. A. UMA VIDA ...: 1ª ed. Rio de Janeiro: TYP.
DO JORNAL DO COMMERCIO RODRIGUES & C., 1936.
NEOA-JBS. Collegio Astronómico Camillo Flammarion.
2017, Disponível em: <http://acervoastronomico.org/acervo/CACF/collegio_astronomico_20171121.pdf>.
Acesso em: 04.01.2019
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